Disponibilização: Terça-feira, 13 de Novembro de 2012
Diário da Justiça Eletrônico - Caderno Judicial - 1ª Instância - Capital
São Paulo, Ano VI - Edição 1305
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peritonite. A peritonite causa hipovolemia à medida que o volume plasmático estravasa do espaço intravascular. Iniciar o exame
físico pela inspeção a procura de cicatrizes, hérnias inguinais e escrotais, distensão, massas e defeitos da parede abdominal. A
seguir a palpação, etapa fundamental na avaliação do paciente com abdômen agudo. Dor localizada na fossa ilíaca direita, no
ponto de McBurney sugere apendicite aguda. Dor no hipocôndrio direito sugere inflamação da vesícula biliar. Diverticulite aguda
freqüentemente causa dor na fossa ilíaca esquerda. Dor desproporcional ao exame físico sugere isquemia intestinal e dor difusa
sugere peritonite generalizada. A detecção de aumento do tônus muscular abdominal, durante a palpação é chamada de defesa
da parte abdominal. Ela pode ser voluntária ou não, e localizada ou generalizada. A irritação peritonial é um sinal de peritonite.
Para sua detecção, o examinador, com a mão, comprime profundamente o abdômen do paciente e a retirada súbita da mão
causa aumento agudo da dor. Na colecistite aguda, a palpação da região subcostal direita,durante inspiração profunda, pode
provocar dor (sinal de Murphy). A ausculta de um abdômen silencioso sugere íleo paralítico, enquanto movimentos peristálticos
hiperativos ocorrem na gastrenterite aguda. Períodos de silêncio abdominal intercalados com peristalse hiperativa caracterizam
a luta contra a obstrução mecânica do intestino delgado. A percussão abdominal pode revelar dor, sugerindo inflamação (irritação
peritoneal). O hipertimpanismo à percussão do abdômen significa distensão gasosa do intestino ou estômago e timpanismo à
percussão sobre o fígado sugere ar livre intra-peritonial e perfuração de víscera oca. Realizar sempre o toque retal nos pacientes
com quadro de dor abdominal aguda à procura de sangue, massas ou dor, e em mulheres sempre realizar o exame pélvico
bimanual em procura de massas ou sensibilidade uterina ou anexial. Apêndice pélvico inflamado ou abscesso pélvico podem
causar dor ao toque retal ou mesmo toque vaginal. A investigação laboratorial geralmente inclui hemograma. A inflamação intraabdominal causa leucocitose, porém esse é um dado inespecífico. A dosagem de amilase e lipase auxilia no diagnóstico de
pancreatite aguda. No entanto, outras doenças, tais como úlcera duodenal perfurada e infarto de delgado podem gerar aumento
da amilase sérica. O exame de urina pode auxiliar no diagnóstico de infecção urinária e litíase renal. Mulheres em idade
gestacional devem ter a dosagem de gonadotrofina coriônica sérica realizada. A história e exame físico são passos principais na
avaliação dos pacientes com dor abdominal. Os exames de imagem melhoram a eficácia diagnóstica e o tratamento global dos
pacientes que se apresentam com dor abdominal aguda. Uma radiografia de abdômen com incidência no diafragma (ortostática)
pode detectar pneumoperitônio de até 1ml. Se o paciente não puder ficar sentado, a radiografia pode ser realizada em decúbito
lateral esquerdo, e o pneumoperitônio será visível se houver de 5 a 10ml na cavidade peritoneal. setenta e cinco porcento das
úlceras duodenais perfuradas causam pneumoperitônio e as perfurações de estômago e cólon, geralmente, provocam grandes
pneumoperitônios. ... Dez por cento das colelitíases e 90% dos cálculos renais são radiopacos e demonstráveis pelo exame
radiológico não contrastado de abdômen. Calcificações pancreáticas e vasculares, sugerindo pancreatite crônica e doenças
vasculares, respectivamente, são achados radiológicos que auxiliam no diagnóstico. O íleo paralítico pode provocar distensão
intestinal com múltiplos níveis hidroaéreos. A ultrassonografia é de baixo custo, rápida e segura, podendo ser utilizada em
mulheres grávidas. É bastante sensível e específica para doenças da vesícula biliar, e também pode ser utilizada para avaliação
do baço, rins e sistema coletor, apêndice, útero e anexos. A tomografia de abdômen é capaz de ajudar na avaliação de abscessos
intra-abdominais, pâncreas, rins e demais estruturas intra e retro-peritoneais” (Abdomen Agudo, Omar Feres e Rogério Serafim
Parra, aquele docente e este, médico residente da Divisão de Coloproctologia do Departamento de Cirurgia e Anatomia da
FMRP-USP). Embora de leitura cansativa, mormente por seu aspecto técnico em área de conhecimento diverso ou distinto da
seara jurídica, a transcrição dos textos feita foi com intuito de melhor analisar os fatos e, sobretudo, para compreensão mais
adequada do teor do laudo pericial médico in casu, podendo-se deles extrair as seguintes conclusões: - o abdomen agudo é
diagnosticado basicamente em função da dor na região abdominal sem causa traumática (pancada, perfuração, etc.), o qual
pode ser causado por doenças em número extremamente elevado (dentre outras, doenças musculares, gastro-intestinais,
ginecológicas, urológicas, vasculares, psicossomáticas, cardíacas, parasitárias, pulmonares e intoxicações exógenas); - o
abdomen agudo reclama intervenção médica de urgência, com ou sem intervenção cirúrgica; - o abdomen agudo pode ter dor
localizada ou difusa e, conforme um e outro caso e mesmo quando associado tal fator a outros parâmetros apurados por exame
clínico e achados em exames complementares, pode haver diagnósticos para suas causas de variadas naturezas; - ainda que
existam sintomas vários apontados em exames clínico (físico) e complementar (de imagem ou não) e mesmo nos casos de dor
localizada, a associação de uns e outros não traduz certeza de diagnóstico que pode variar, ainda que com hipóteses diagnósticas
reduzidas, grandemente ou não; e - mesmo a dor na região abdominal não significa necessariamente a presença de patologia
em segmento corporal situação nela, podendo mesmo tratar-se de abdome agudo simulado. III Referentemente à apendicite,
são de interesse os seguintes dados: “Apendicite é a inflamação do apêndice, um pequeno órgão linfático parecido com o dedo
de uma luva, localizado no ceco, a primeira porção do intestino grosso. Na maioria dos casos, o problema ocorre por obstrução
da luz dessa pequena saliência do ceco pela retenção de materiais diversos com restos fecais. O quadro inflamatório-infeccioso
característico da apendicite é mais frequente entre 20 e 30 anos e pode ser extremamente grave e levar à morte se o paciente
não for tratado a tempo. Sintomas * Falta de apetite é o principal sintoma. No entanto, como aparece em qualquer quadro
infeccioso, torna-se um sinal inespecífico; * Dor abdominal que se manifesta do lado direito e na parte baixa do abdômen. É uma
dor pontual, contínua e localizada, fraca no início, mas que vai aumentando de intensidade; * Colapso do aparelho digestivo,
porque o intestino pára de funcionar; * Febre; * Queda do estado geral; * Náuseas, vômitos e certa apatia. Diagnóstico O
diagnóstico é clínico, realizado com base na história do paciente e na palpação do abdômen. Como os sintomas das anexites
(inflamação das trompas, útero e ovários) também provocam dor do lado direito do abdômen, é preciso estabelecer o diagnóstico
diferencial. O ultrassom e a tomografia auxiliam bastante nessa distinção. Estabelecer o diagnóstico de apendicite nem sempre
é fácil. Por isso, havendo suspeita da infecção, o paciente deve ser encaminhado para cirurgia o mais depressa possível para
evitar complicações graves, como a peritonite, por exemplo. Tratamento O tratamento da apendicite é cirúrgico. A incisão é
pequena e as cicatrizes quase imperceptíveis. A intervenção pode ser feita também por via laparoscópica com os mesmos
resultados da cirurgia com campo aberto. Se a cirurgia não for realizada em tempo hábil, a apendicite pode por em risco a vida
do paciente. Só excepcionalmente, o tratamento clínico é introduzido antes da cirurgia” (Dráuzio Varella, Apendicite); “A
apendicite á a principal causa de cirurgias abdominais na urgência. Nos EUA chegam a 250.000 casos/ano. Acredita-se que a
sua principal causa seja a obstrução da sua luz do apêndice, seguida da inflamação, infecção secundária e necrose evoluindo
para a perfuração do órgão. O paciente procura atendimento médico com história de dor abdominal peri-umbilical (causado pela
obstrução da luz apendicular e a distensão da sua parede), irradiada para fossa ilíaca direita (correspondendo à inflamação e
infecção do apêndice) geralmente associada a náuseas e vômitos, inapetência e febre baixa. Este processo pode evoluir em
poucas horas ou até um dia. Neste momento, podemos encontrar ausência de leucocitose e no exame físico alguns sinais como
Blumberg (dor a descompressão brusca no ponto de McBurney), Rovsing (dor referida na fossa ilíaca direita após compressão
do hemiabdômen esquerdo, levando a distensão do ceco). Para a apendicite aguda, o exame físico aliado à história clínica tem
uma acurácia de cerca de 95% no diagnóstico. Esta apresentação típica ocorre em cerca de 66% dos casos. No entanto, outras
formas variadas podem ocorrer (formas atípicas), sendo associadas a alterações anatômicas do apêndice (retro-cecais, pélvicos,
retro-vesicais) e em pacientes de imunossuprimidos como gestantes e idosos. Nestes casos as evoluções podem ser desastrosas,
Publicação Oficial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo - Lei Federal nº 11.419/06, art. 4º